quinta-feira, 29 de julho de 2010

Procurei o teu cheiro

















Procurei o teu cheiro nos lençóis,
primeiro calmamente, depois em desespero.
Ah, finalmente, cá está ele - impresso na almofada.
Quis não sair dela, até ao teu regresso,
ficar com o teu cheiro dentro de mim.

Olhei em volta e senti a certeza
de que poderia só cheirar-te
Esquecer-me do cheiro da terra e da relva molhada
que tanto prazer me dão.

Desejei, fundo, ficar aqui retida, apenas
amando-te, esperando por ti
Neste camarote altivo, és só meu e sou só tua.
E só tua - é tudo o que anseio ser.

Elis

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Ausência de luz



Os dedos apertam, nas mãos, a roupa
No peito está sufocado um grito
Um retorcer da alma, num profundo gemido
Longo uivo de uma ausência de luz

Elis

domingo, 25 de julho de 2010

Na margem do rio













Sentei-me na margem do rio
e olhei a ondulação quase nula
Baloiçava as pernas,
deixando as pontas dos dedos tocarem a água.
Sorria
e recolhia pedras rasas
que pudéssemos atirar, juntos, ao rio.
Esperava-te ansiosa
com a calma de quem sente a paz
de um dia solarengo.

Sentaste-te a meu lado
e deste-me a mão.
As minhas pernas pararam
e encostei-me no teu ombro.

Ficamos a olhar o tempo.
A sentir o vibrar dos nossos corações
em uníssono.

Depois beijaste-me...
Corremos, rimo-nos,
atiramos pedras ao rio,
e deitamo-nos a olhar o céu.

Repousamos um no outro
e ficamos em calma,
partilhando a intemporalidade
daquele momento.

Imprimimo-nos um no outro
e passamos a ser
indissociáveis.

Elis

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Dentro de ti, dentro de mim

Quero tornar-me tua…
Viajar para dentro de ti
Através do toque, da saliva
Entrar em ti e respirar-me, com o teu ar

Quero abraçar-te com o corpo
Encostar o meu peito ao teu
e beber a pele molhada de suor

Quero mostrar-te quem sou, por dentro
Forçar-te para dentro de mim,
deixar-te vasculhar-me a alma
e obrigar-te a sentir o mesmo que eu
Permitir que chores as minhas lágrimas
ao sentires a emoção que me fazes viver

Ao saíres de mim,
perceberias que a distância que existe entre nós
é só ar, é só vento, é espaço vazio
Essa distância não existe sequer
porque estamos ligados
mais que umbilicalmente
Unidos por algo sem nome
a que alguns chamam alma,
outros, simplesmente, amor.


Elis

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Vamos juntos
















Dá-me a tua mão
Leva-me por ela até essa terra de sonhos
Deixa-me viajar contigo, partilharmo-nos
Deixa-me ser mais tu e dar-te mais eu

Quero embrenhar-me em ti
Sentir-me bem dentro do que és
Entranharmo-nos mais um no outro
Cada vez mais,
cada vez mais

Vamos absorver-nos
Vamos extinguir-nos
na presença um do outro
Em olhares, em suspiros,
em palavras pesadas - cheias de intenções

Vamos extenuar-nos,
levarmo-nos até às últimas consequências
deste sentimento que nos maltrata o peito

Vamos consumir-nos
até à chegada de uma nova hora
E sosseguemo-nos depois um no outro
Esperando o tempo acabar

Elis

terça-feira, 13 de julho de 2010

O dia rebentava claro














O dia rebentava claro
e a luz entrava no quarto,
onde o tempo se movia devagar.

Lentamente, fui reconhecendo os sentidos.

Senti-te o cheiro,
aceitando a condição de ser tua.
Abri a minha mão no teu peito,
procurando o dançar ondulante da vida.
Ouvi-te o cavalgar sereno,
respirar do guardião do amor.
Abri os olhos e admirei-te,
tocando levemente o pescoço, o queixo,
e depois os lábios.
Quis saborear-te a voz
através dessa pele macia, carnuda, apetecível.

Acordei-te com um sorriso
e misturei-me na tua saliva,
desejando mergulhar nela até um novo amanhecer.

Elis

domingo, 11 de julho de 2010

Sou tua

Sou tua!
Sou escrava do que me fazes sentir,
dependente da tua luz,
viciada na tua presença.

E já tão pouco sou, porque te pertenço...
Não existo sem ti,
sem essa tua essência,
luz que me acende a alma,
me embarga a voz
e me faz sorrir.

Sou tua, como sou tu!
Como parte integrante
de um mesmo ser,
indissociável, indivisível.

E vives em mim,
preenchendo-me a cada inspirar.

Sou tua, como sendo eu, contigo dentro!


Elis

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Amanhecer em mim
















O cheiro lavado dos lençóis
faz-me lembrar as manhãs de Primavera
partilhadas contigo, em pleno Dezembro.

A chuva brilhante faz amanhecer em mim
o teu sorriso, aberto e solarengo,
envolvendo-me num abraço doce e demorado.

Desperto com a alma cheia de luz, completa de ti.
Satisfeita de sonhos e loucuras, de emoções e paz.
Consciente da grandeza de um sentimento que é maior.

Elis

terça-feira, 6 de julho de 2010

Trazia-te naquela manhã

O vento sacudiu-me o cabelo
e lambeu-me o pescoço.
Gotinhas de chuva caíram-me na face,
beijando-me.
Passei a língua pelos lábios
e senti-lhes o teu sabor.
Fechei os olhos.
Respirei no ar daquela manhã
o cheiro do nosso suor,
o prazer lânguido dos corpos,
o calor húmido envolvente.
Abri os olhos, tinha-te em mim toda, todo!
Trazia-te naquela manhã...
...e ninguém te via!

Elis

domingo, 4 de julho de 2010

Fiquei sentada à espera


Fiquei sentada à espera,
naquele banco de jardim inquieto.
Fiquei sentada à espera
que a esquina se dobrasse para ti,
que o dia cinzento brilhasse, contigo.

Fiquei sentada à espera,
com o coração aos pulos,
apertadinho, gritando,
exigindo a tua presença.

Fiquei sentada à espera,
respirando pequenino,
para acelerar o tempo.
Desesperando por dentro,
tentando manter-me calma por fora.

Fiquei sentada à espera
que a tua chegada calasse aquele momento
e o apagasse no tempo.

Elis

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Tudo são rascunhos

Tudo são rascunhos perante a tua sombra.
Linhas incertas, indefinidas, imprecisas.
Só tu és existência inequívoca,
presença de luz divina no meu caminho,
representação de magia no mundo,
traço indelével de grandeza e amor.
Só tu pertences a esse lugar de céu alto,
altar de entendimento supremo,
ligação cósmica de matéria,
realidade insondada de continuidade intemporal.
Pó, chuva, brisa e sol.
Só tu és vida.
Só tu és luz.
Só tu és paz!