sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Dia cinzento

O dia está cinzento
Eu não sei o que te dizer
e se o soubesse, não saberia como

Assim, fico-me pelo dia
como a chuva miudinha
que se vai agarrando a roupa
e impregnando-me o ser de melancolia

O dia está cinzento
E eu queria dizer-te que...
mas não sei como

Assim, fico-me pela noite
aconchegada no calor da pele
no silêncio das suas palavras
e fingindo que nesta pele está a tua

Elis

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Em dueto

Ele:
O gira-discos rodava lento
A música envolvia-nos
Tinha-te nos braços…nos meus braços
E embalava os nossos corpos pelo espaço

Ela:
O gira-discos tocava baixinho
Uma música envolvente
Estava nos teus braços…nos teus braços
E, encostada no teu peito, sentia-me em paz

REF:
Fica comigo esta noite
Vamos dançar até amanhã
Repousemos um no outro
E deixa-me abraçar-te, até amanhã
(E abraça-me, até amanhã)

Ele:
Dançávamos vagarosos
Um abraço musical demorado
Cheirava o teu cabelo…o teu cabelo
Doce brisa nocturna, que me embriaga

Ela:
Dançávamos em uníssono
Ao som de nós mesmos
Respirava o teu calor…o teu calor
Odor que era fogueira e abrigo


Elis

sábado, 6 de novembro de 2010

A Semente

A semente que pousa na terra
foi trazida pelo vento do Sul.
Chega inesperada e mágica,
envolta em luz macia e brilhante.
A minha chuva cai feliz e fértil
sobre a notícia do seu plantar.
Em todo o meu sorriso, transbordante,
seguem desejos de um germinar altivo,
seguem beijos de calor e aconchego.
Semente que é raiz, raiz que é árvore,
fruto de polpa doce e consistente,
traz-me sonhos, dou-te amor.

Elis

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Gota de felicidade















O avião aterrou em segurança!
A terra firme debaixo dos pés,
deixou-me sentir novamente.
Toda a viagem se acendeu em mim,
como uma des(sobre)carga sensorial.
Sinto-te o cheiro na pele
e a lembrança do teu toque faz-me tremer.
Num fechar de olhos,
um sorriso floresce em mim, inevitavelmente.
Consigo sentir o cheiro a mar
nas ondas que me rebentam no peito,
deixando a espuma envolver-me por dentro.
A alma, completa - preenchida de nós,
tenta transbordar, embargando-me a voz.
E essa água salgada refresca-me os lábios,
gota de felicidade explosiva, fruto do sol - da luz!!

Elis

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Voo vertiginoso

A tua ausência reflecte-se em mim
como uma falta total de luminosidade
um desabar de estrelas em voo vertiginoso
É um desalinhar de planetas,
numa confusão cósmica perturbante.

Até os pássaros andam desencontrados no céu
sem rumo, em alvoroço, desconcertados

Fico perdida sem essa tua luz
sem o teu sorriso dócil,
a mística que te caracteriza,
a voz quente, o afago de um olhar.

Deixa-me ficar contigo,
sentir-me tua num beijo mais,
mergulhar nessa harmonia só nossa
e tornar-me imensa e eterna novamente.

Elis

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Chá de mimo




















Dá-me colo!

Adormece-me enquanto me afagas o cabelo
e deixa-me repousar no teu corpo, quente e seguro,
envolvendo-me nesse manto protector que é teu abraço.

Embala-me pelos sonhos - cuida de mim!

Traz refúgio em água fervida com cheiro a limão e mel,
chá de mimo puro, dedicação em estado líquido.
Acarinha este meu jeito de menina crescida
e abriga-me no teu peito, espaço sereno de meiguice e paz.

Vem ser mezinha caseira para todo o mal...
Dá-me colo!


Elis

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Nunca















Nunca tanto mundo me deu tanto medo
A tua existência apagou qualquer outro sentido
A tua ausência transforma em névoa a vida

Nunca tanta luz teve tanta sombra
A tua existência abriu as cores ao mundo
A tua ausência esvazia o brilho das ruas

Nunca tanta presença foi tanta solidão
A tua existência é em mim parte de um todo
A tua ausência faz-me nada na multidão

Nunca tanto mundo me deu tanto medo!
A vida sem ti é simplesmente cenário amargo de terra árida e infértil
Fruto não colhido, água que brota sem caminho.

Elis

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Ardes-me nos lábios




















O teu beijo ainda me arde nos lábios
espalhando cinzas de desejo pelo meu corpo
No calor dessa fogueira, minha boca pede mais
suplicando por sentir novamente esse crepitar macio
Ansiando saborear esses teus lábios de romã,
que trazem frescura ao fulgor desse beijo

Nos teus lábios mergulho... inundo-me
Nos teus lábios ardo... renasço
Nos teus lábios sou... explosão de leveza, riso e amor.

Elis

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Tic-tac, tic-tac, tic-tac



















O túnel redondo engole-nos
Submete-nos à sua passagem
Verga-nos à sua vontade

A espiral infinita subjuga-nos
Enrola-nos na sua teia
Magoa-nos com a sua cadência

Caindo pelo poço largo,
a sorte pertence aos ladrões
Salteadores de tempo roubado aos deuses
Contrariedade cósmica, magia alcançável.

Elis

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

O amanhã


O amanhã chegará em breve!
Secarás todas as lágrimas choradas
Aconchegarás todas as noites não embaladas
E beijarás todos os meus medos inseguros.
À luz do amanhã,
Sentirás toda a pureza dos meus sentimentos
Saberás a certeza de uma inexistente partida
E conhecerás o sabor de um verdadeiro beijo infinito.

Ao raiar desse novo começo
Todo o céu será diferente – mais brilhante
Todo o calor estará mais perto – mais presente
Todo o universo ficará alinhado – mais completo

Em breve, o amanhã chegará
E tu e eu, de vidas dadas
Estaremos no cimo da colina,
Olhando um novo amanhã
Como um só.
“Que o amanhã venha ontem!”

Elis

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Alimentados por nós
















És um sentimento que me invade,
levando-me da alegria à tristeza em milésimos de segundo
E amo-te!
E digo que te amo porque não sei dizer mais.
Mas digo-o sabendo que não chega,
sabendo que não faz jus ao que sinto por ti.

Eu sou tu e já não sei ser eu.
Porque já não sou eu sequer.
Porque não me lembro de ter sido, algum dia, sem ti.
Sinto com a tua pele, respiro pelo teu ar.
Sou inteiramente nós!

Vivo numa vontade imensa de mergulhar em ti e em mim.
Ter os teus braços envoltos em mim,
cair na carícia de um beijo no cabelo.

Vivo na ânsia de nos perdermos na frondosa selva de nós
Sobreviver nela, sobreviver Dela!
Desafiando-lhe os perigos, no mínimo apetecíveis.
Morrer nessa floresta densa e perfumada,
deixando cantar este sentimento que nos rasga o peito
e nos faz sentir o coração querer saltar pela boca

Elevo-me na sensação de estarmos lado a lado,
completos e cheios, desejando mais.
Querendo mais e mais, muito mais,
sem saber onde e como acolher mais sentimento.
Criando no peito novos espaços
para nos recebermos.
Ficando maiores, crescendo,
alimentados pela nossa energia.
Em cada palavra, cada suspiro, em cada silêncio.


Elis

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Ode

Diz-me,
tens-me nos teus sonhos,
tal como invades os meus?
Sentes-me pulsar em ti,
a cada respirar da alma?
Recordas o meu cheiro,
ao acordar na madrugada?
Saboreias a saudade de mim,
como condição de me amar?

Responde-me sim com um beijo
e o meu coração descobrirá, em brados,
a reciprocidade de um sentimento,
batendo com a força de um sol rompendo a aurora
sorrindo, em júbilo, o calor da tua resposta.

Elis

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

A tua passagem, a tua presença


















A tua passagem deixou um rasto indelével de loucura.
A tua presença entranhou-se totalmente em mim.
Ondulaste pelo meu corpo, escorregaste-me pela alma.
Senti-te o gosto, a pele, o paladar,
a paixão, a vontade, o gozo, o tremor…
Dançamos juntos, embalados por uma canção só nossa,
num misto de medo, excitação, orgulho, pertença, emoção…
Rasgaste-me a pele e beijaste-me o espírito.
Senti-me nas tuas mãos, no teu abraço, no teu beijo,
no palpitar acelerado dos nossos corações,
no trepidar dos corpos, extasiados no riso da satisfação.

Quis-te mais, por mais tempo.
Quis-te meu, mais um dia, seguido de outro.
Quis-te fechado num mundo só nosso,
guardado no tempo e no espaço.

Sinto-te ainda o gosto, no fechar dos olhos, por baixo da pele,
divagando pelo meu corpo, em forma de energia pulsante.
Sinto ainda o toque, a língua, o bafo, o calor,
o incêndio das almas, fundindo-se por entre corpos que se querem mais juntos.

Elis

terça-feira, 21 de setembro de 2010

A água reflectida na janela


A água reflectida na janela
cai-me levemente dos olhos.
O dia está cinzento
e não reconheço nada do que me rodeia

Choro involuntariamente,
como se o corpo quisesse expulsar
uma dor demasiado profunda;
Como se quisesse abandonar-me
em estado líquido;
fugindo, nessa mesma forma, das lágrimas.
Torna-se compreensível
que eu própria já me abandonei
em frente a essa janela,
chorando a tua ausência.

Elis

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Vem ser céu



Estrela brilhante que é sol
traz para perto de mim o teu calor
Erva molhada que é ar
deixa-me inspirar-te para mim
Gota de pele que é mar
quero inundar-me, bebendo-te
Travo a café que é chão
vem ser teu pé ante o meu
vem ser o céu, sem início, sem fim.


Elis

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Esse ser que não dorme














O brilho da lua,
essa ponte inatingível entre este lado e o outro,
esfumou-se na tua ausência.

Esse ser que não dorme,
acolhendo os escondidos do dia,
os filhos da insónia e da boémia,
cansou-se e foi para a cama mais cedo.

Abateu-se sobre o mundo
a estranheza da falta de um entidade mágica,
que, por engano, orgulho ou vingança,
decidiu ir brilhar para um outro alguém.

Elis

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Uma música nossa enche o espaço




















Uma música nossa enche o espaço.
Deitada no chão, sorrio de olhos fechados.
É nossa a música, é nosso o mundo.
A cada balanço, o peito enche-se de amor
e já mais nada existe.

Só tu e eu, só esta nossa dança.

Apenas os nossos olhares povoam a terra.
Apenas o toque das nossas mãos fazem o sol,
criando luz, que é magia.
Alimentados pela nossa melodia.
Compondo a cada beijo,
novos sons, novos tons, novos começos.

Somos, nós, o começo e o fim.
Somos, nós, a música que enche o ar!

Elis

sábado, 21 de agosto de 2010

Os teus dedos















Os teus dedos desceram pela minha pele
Senti-os quentes, imprecisos,
como o toque do lençol que nos envolve.

Os teus dedos pressionaram-me a pele
Senti-os fortes, exploradores,
num afago de desejo que cresce incontrolável.

Os teus dedos misturaram-se com a minha pele
Senti-os meus, naturais e certos,
uma união de matéria que pertence ao mesmo pedaço de céu.

Elis

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

A-verbal :)

Inspirada por um exercício no blog "Macaquinhos no Sótão", decidi experimentar a elaboração de um poema sem verbos... Aqui ficam os dois resultados!
Quem quiser visitar o originário da experiência (os créditos a quem os merece), pode seguir este link: http://macaquinhos-nu-sotao.blogspot.com/2009/05/palavra-despida.html















Flores murchas sobre a mesa,
portadoras de um coma emocional.
Baças, sem cor,
reflexo da tua ausência.

O teu lugar vazio no sofá.
Nas paredes, o eco da tua voz.
E o ar sem peso nem frescura
Como um espelho do vazio total.

Queda num buraco sem cor,
Luz ou Escuridão.
Sem sentimento bom ou mau.
Sem matéria. Sem coração.

Elis

















Com os corpos lânguidos unidos
Envoltos na névoa quente da cama
Amparados apenas no amanhecer longínquo

O bafo quente dos beijos sôfregos
rasgos de carícias leves e loucas
Como sopros de alma
em rebentação explosiva de saliva

Enfeitiçante, a suavidade da pele na pele
tal como os lençóis embrulhados um no outro
Dentro de nós, chamas acesas
consumidas por respirações sofridas
– exposição do desejo e da entrega.

Elis

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

O desconforto de amar

Sinto-te tanto em mim!
E este sentimento engole-me o peito,
levando-me a acreditar
que tudo se corrói cá dentro.

O desconforto de amar.

Sinto-te tanto em mim.
E sinto-me tão viva.
E sinto-me a morrer,
em agonia, sorrindo.

O desconforto de amar.

Sinto-te tanto em mim.
No peito, bem cá dentro.
Por baixo da pele, nos ossos,
nos pulmões - entrando e fugindo.

Sinto-te em mim,
como uma passagem para a loucura de amar,
para o amor-loucura.
Corres-me nas veias, fluído,
como um veneno doce que embriaga
e me faz sentir!

Elis

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Procurei o teu cheiro

















Procurei o teu cheiro nos lençóis,
primeiro calmamente, depois em desespero.
Ah, finalmente, cá está ele - impresso na almofada.
Quis não sair dela, até ao teu regresso,
ficar com o teu cheiro dentro de mim.

Olhei em volta e senti a certeza
de que poderia só cheirar-te
Esquecer-me do cheiro da terra e da relva molhada
que tanto prazer me dão.

Desejei, fundo, ficar aqui retida, apenas
amando-te, esperando por ti
Neste camarote altivo, és só meu e sou só tua.
E só tua - é tudo o que anseio ser.

Elis

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Ausência de luz



Os dedos apertam, nas mãos, a roupa
No peito está sufocado um grito
Um retorcer da alma, num profundo gemido
Longo uivo de uma ausência de luz

Elis

domingo, 25 de julho de 2010

Na margem do rio













Sentei-me na margem do rio
e olhei a ondulação quase nula
Baloiçava as pernas,
deixando as pontas dos dedos tocarem a água.
Sorria
e recolhia pedras rasas
que pudéssemos atirar, juntos, ao rio.
Esperava-te ansiosa
com a calma de quem sente a paz
de um dia solarengo.

Sentaste-te a meu lado
e deste-me a mão.
As minhas pernas pararam
e encostei-me no teu ombro.

Ficamos a olhar o tempo.
A sentir o vibrar dos nossos corações
em uníssono.

Depois beijaste-me...
Corremos, rimo-nos,
atiramos pedras ao rio,
e deitamo-nos a olhar o céu.

Repousamos um no outro
e ficamos em calma,
partilhando a intemporalidade
daquele momento.

Imprimimo-nos um no outro
e passamos a ser
indissociáveis.

Elis

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Dentro de ti, dentro de mim

Quero tornar-me tua…
Viajar para dentro de ti
Através do toque, da saliva
Entrar em ti e respirar-me, com o teu ar

Quero abraçar-te com o corpo
Encostar o meu peito ao teu
e beber a pele molhada de suor

Quero mostrar-te quem sou, por dentro
Forçar-te para dentro de mim,
deixar-te vasculhar-me a alma
e obrigar-te a sentir o mesmo que eu
Permitir que chores as minhas lágrimas
ao sentires a emoção que me fazes viver

Ao saíres de mim,
perceberias que a distância que existe entre nós
é só ar, é só vento, é espaço vazio
Essa distância não existe sequer
porque estamos ligados
mais que umbilicalmente
Unidos por algo sem nome
a que alguns chamam alma,
outros, simplesmente, amor.


Elis

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Vamos juntos
















Dá-me a tua mão
Leva-me por ela até essa terra de sonhos
Deixa-me viajar contigo, partilharmo-nos
Deixa-me ser mais tu e dar-te mais eu

Quero embrenhar-me em ti
Sentir-me bem dentro do que és
Entranharmo-nos mais um no outro
Cada vez mais,
cada vez mais

Vamos absorver-nos
Vamos extinguir-nos
na presença um do outro
Em olhares, em suspiros,
em palavras pesadas - cheias de intenções

Vamos extenuar-nos,
levarmo-nos até às últimas consequências
deste sentimento que nos maltrata o peito

Vamos consumir-nos
até à chegada de uma nova hora
E sosseguemo-nos depois um no outro
Esperando o tempo acabar

Elis

terça-feira, 13 de julho de 2010

O dia rebentava claro














O dia rebentava claro
e a luz entrava no quarto,
onde o tempo se movia devagar.

Lentamente, fui reconhecendo os sentidos.

Senti-te o cheiro,
aceitando a condição de ser tua.
Abri a minha mão no teu peito,
procurando o dançar ondulante da vida.
Ouvi-te o cavalgar sereno,
respirar do guardião do amor.
Abri os olhos e admirei-te,
tocando levemente o pescoço, o queixo,
e depois os lábios.
Quis saborear-te a voz
através dessa pele macia, carnuda, apetecível.

Acordei-te com um sorriso
e misturei-me na tua saliva,
desejando mergulhar nela até um novo amanhecer.

Elis

domingo, 11 de julho de 2010

Sou tua

Sou tua!
Sou escrava do que me fazes sentir,
dependente da tua luz,
viciada na tua presença.

E já tão pouco sou, porque te pertenço...
Não existo sem ti,
sem essa tua essência,
luz que me acende a alma,
me embarga a voz
e me faz sorrir.

Sou tua, como sou tu!
Como parte integrante
de um mesmo ser,
indissociável, indivisível.

E vives em mim,
preenchendo-me a cada inspirar.

Sou tua, como sendo eu, contigo dentro!


Elis

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Amanhecer em mim
















O cheiro lavado dos lençóis
faz-me lembrar as manhãs de Primavera
partilhadas contigo, em pleno Dezembro.

A chuva brilhante faz amanhecer em mim
o teu sorriso, aberto e solarengo,
envolvendo-me num abraço doce e demorado.

Desperto com a alma cheia de luz, completa de ti.
Satisfeita de sonhos e loucuras, de emoções e paz.
Consciente da grandeza de um sentimento que é maior.

Elis

terça-feira, 6 de julho de 2010

Trazia-te naquela manhã

O vento sacudiu-me o cabelo
e lambeu-me o pescoço.
Gotinhas de chuva caíram-me na face,
beijando-me.
Passei a língua pelos lábios
e senti-lhes o teu sabor.
Fechei os olhos.
Respirei no ar daquela manhã
o cheiro do nosso suor,
o prazer lânguido dos corpos,
o calor húmido envolvente.
Abri os olhos, tinha-te em mim toda, todo!
Trazia-te naquela manhã...
...e ninguém te via!

Elis

domingo, 4 de julho de 2010

Fiquei sentada à espera


Fiquei sentada à espera,
naquele banco de jardim inquieto.
Fiquei sentada à espera
que a esquina se dobrasse para ti,
que o dia cinzento brilhasse, contigo.

Fiquei sentada à espera,
com o coração aos pulos,
apertadinho, gritando,
exigindo a tua presença.

Fiquei sentada à espera,
respirando pequenino,
para acelerar o tempo.
Desesperando por dentro,
tentando manter-me calma por fora.

Fiquei sentada à espera
que a tua chegada calasse aquele momento
e o apagasse no tempo.

Elis

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Tudo são rascunhos

Tudo são rascunhos perante a tua sombra.
Linhas incertas, indefinidas, imprecisas.
Só tu és existência inequívoca,
presença de luz divina no meu caminho,
representação de magia no mundo,
traço indelével de grandeza e amor.
Só tu pertences a esse lugar de céu alto,
altar de entendimento supremo,
ligação cósmica de matéria,
realidade insondada de continuidade intemporal.
Pó, chuva, brisa e sol.
Só tu és vida.
Só tu és luz.
Só tu és paz!

quarta-feira, 30 de junho de 2010

O Beijo


Rodeava-te a face com as mãos,
como asas de pássaro protegendo a cria.
Mergulhava no teu olhar,
e os nossos olhos tornavam-se espelho
de um sentimento que engole o peito
e provoca o sorriso.

Tocando-te no pescoço,
sentia-me presente no teu respirar,
num concerto de fôlegos combinados.

Meus lábios puxavam-me para os teus,
como uma artéria fulminante de vida
efervescendo a cada batimento.

Por fim, senti-te o calor, o ardor, a febre,
a saliva, o sabor, a língua, a cor e a pulsação.

Esse beijo rebentou em mim,
como uma bátega de amor
no solo fértil dos nossos corpos.


Elis

terça-feira, 29 de junho de 2010

Demência de amar

Onde escondemos a demência de amar?
Onde escondemos a demência de sentir, livremente?
Porque afundamos as verdades que não queremos admitir,
que borbulham em nós, querendo sair,
que pensamos a medo e que, distraídos, nos fazem sorrir?
Como aceitamos enclausurar-nos dentro de nós mesmos,
dentro de um eu puritano e moralista?

Para quando a libertação da alma?!
Para momentos contigo, no vazio...

Onde somos permitidos.
Onde a luz matinal do sol
brilha sombria no dourado do que sentimos.

Elis

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Há uma linha...

Há uma linha dentro de mim. Uma explicação rabiscada daquilo que sou. Composição de traços desafinados, resultado de uma música pintada a vários disparos fotográficos.
No papel, essa voz desafinada ganha cor e luz. Ganha som. No fim de cada começo, sou tinta descansando...traço ferroviário de construção interior.

Elis